"A arte é muito maior que um padrão.
Arte é arte"
Ela nasceu Audrey Pimenta, mas é conhecida
como Suheil e traz no seu trabalho como bailarina de dança do ventre verdade e
luz própria, que vi poucas vezes nesse tempo em que acompanho como admiradora o
mundo belly dance. A bailarina esteve em Teresina dia 07 de dezembro e
aqui se apresentou como convidada no espetáculo Pedras Preciosas, promovido
pelo espaço de dança Laywilsa Farah (do qual sou aluna), no Teatro do Boi. Ela
falou com exclusividade aqui para o Bossa e nos recebeu para um bate-papo
descontraído e sincero.
Uma das características que me encantou em
Suheil é o fato dela não ser presa a padrões, então tem um jeito único de
dançar e chega com isso a desagradar a alguns daqueles que são
"habitués" ao que é imposto como 'o jeito correto-padrão-comercial' brasileiro
de se fazer a dança do ventre.
Suheil tem 30 anos de dança do ventre, é
coreografa reconhecida por sua excelência, já recebeu mais de 30 prêmios em sua
carreira e é a única brasileira qualificada no "Bellydance Superstar"
dos EUA. Ela nos contou que primeiro foi reconhecida lá fora para depois ser aceita no Brasil. "Em alguns momentos fui criticada e olhada
diferente até mesmo por colegas da dança por eu não ter 'o padrão' brasileiro.
Pessoas já deixaram de fazer meus Workshops pelo mesmo motivo", revela.
Já admirava o trabalho de Suheil desde a
época em que ainda nem pensava em fazer aulas formais dessa arte. E ao conversar com
ela pessoalmente descobri o porquê da admiração intuitiva e é a verdade de seu
trabalho, que não se limita a padrões como falei anteriormente.
Meninas, confesso a vocês que depois de
Shakira (risos), a Suheil foi minha primeira professora através de vídeos. A
querida, fazia participações semanais ensinando técnicas na TV Aparecida em um
programa chamado Simplesmente Mulher (e eu que não sou besta nem nada via
quando podia, através de antena parabólica, e tentava imitar. hahahaha...depois fui
acompanhar alguns dessas aulas no Youtube).
Recebendo o carinho da minha 'ídala' depois do espetáculo Pedras Preciosas. Momento mágico!
Para nosso bate-papo, Suheil me recebeu no
hotel sem maquiagem, com uma linda trança lateral ao estilo Ponkarontas e com
um vestidinho estilo hippie. Amei o look!. O modo como ela veio para conversar
comigo já me sinalizou o que me esperava: uma pessoa verdadeira e espontânea.
Seu jeito me agradou mais uma vez, porque me vi um pouco naquela atitude. Quem
me conhece mais de perto sabe que sou básica, adoro um estilo new hippie e sou
também bem verdadeira e não consigo me adaptar a nada que me prenda/limite/enquadre. E
olhem só: mais uma coincidência entre nós: somos sagitarianas, sendo que eu faço
aniversário dia 28 de novembro e ela dia 27. Não é o máximo! Só tem uma coisa
que ando é longe de ser parecida com essa diva que me inspira: a dança, claro!
hahahahahha (que puxa!), mas essa é uma outra história. Bem, feito esse
parênteses vamos ao que conversamos.
Uma série de fotos no making of da entrevista. A diva brindando nossa conversa com a legítima cajuína e autografando meu DVD com o seu método acadêmico. Foto: Adriana Lemos.
Já no começo de nosso bate-papo, Suheil se
emocionou ao falar que tinha ficado sabendo pelas redes sociais que sua grande
mestra Sherazad havia morrido. Suheil nos contou que dedicaria sua apresentação
daquele final de semana a sua professora. "Foi pelas mãos dela que comecei
na dança do ventre. Quando fui para sua escola tinha 16 anos e era uma
bailarina clássica profissional. Mas ela me disse que eu não levava jeito para a
dança do ventre, por ser muito dura", lembra.
Mas Suheil não desistiu e persistiu no
mundo belly dance e uma viagem a Grécia foi decisiva para que ela entendesse
que queria fazer parte da dança para o resto da vida. "Lá vi uma mulher de
uns 100 kg dançando, vi nela uma forma de dançar a vida toda (com
verdade)", conta.
Como virou professora:
Fazia aulas com Sherazad e eu e uma colega
fomos convidadas para substituí-la em um período em que ela ficou doente.
Fiquei com a turma de iniciantes e foi a partir daí que começou a nascer o meu
método acadêmico.
Seu estilo:
Sou raiz, tem um misto de técnicas do balé
com a dança do ventre. Minha dança é a tradicional, tenho elementos do balé
clássico incorporado, mas minha dança é com o pé no chão. Com o tempo fui
ganhando liberdade de expressão. Quando estava começando só dançava coreografada,
mas se limitar a isso a dança acaba ficando mecânica.
Padrão brasileiro:
Em minhas viagens pelo mundo, inclusive
pelo Egito, vi que esse padrão que se exige no Brasil para dança do ventre só
existe aqui. Aos poucos me libertei e deixei fluir a artista dentro de mim. A
minha dança tem a ver com a platéia, se ela me dá uma energia boa eu devolvo
com emoção e amor. O padrão brasileiro é feito para espaços pequenos, que
limita muito a expressão da bailarina. Pra mim a dança do ventre é para espaços cênicos
amplos, como o palco de um teatro. A dança do ventre tem como essência
a emoção. É a história que a gente carrega.
Dança para todas as mulheres:
É uma dança para todas as mulheres, magra
e gorda, nova ou com mais idade. Uma mulher com 30 anos para o balé clássico,
por exemplo, já é velha, na dança do ventre não é. Mas temos de estar cientes
que existem dois segmentos. O segmento das amantes da dança do ventre, no qual não existe
idade nem corpo padrão, e o segmento profissional, que infelizmente é comercial,
há exigências. Quando estamos com sabedoria somos negadas para o público. Já
perdi contrato por conta da minha idade. Passei na seleção, mas quando fui
assinar o contrato me excluíram; disseram que só eram aceitas bailarinas até
40 anos.
A dança como Terapia:
Antes da carreira internacional trabalhava
com esse lado da dança. Ele trabalha o lado do feminino, que é muito
importante. Entre os benefícios está o resgate da autoestima, o auxílio na cura
da depressão, trabalha a questão da maternidade e a aceitação do corpo.
O fim da carreira:
Suheil nos revelou que já começou a
encerrar a carreira, mas isso não significar deixar o mundo da dança.
"Comecei aos 15 anos, a vida que levamos é uma loucura, não temos vida
pessoal. Agora quero ser mãe, preciso construir outras coisas. Sou realista,
ser mãe já com a idade que tenho de 44 anos, sei que não voltarei para a mesma
vida profissional de bailarina com muitas apresentações e viagens. Sei que isso não é
possível, mas enquanto mestra, sim. Enquanto me quiserem estou aqui".
"Existe vida fora de padrões"